Biodiversidade do Pantanal está ameaçada por hidrelétricas
Poucos lugares no mundo
abrigam tamanha biodiversidade e mesclam características de tantos biomas
quanto o Pantanal Mato-grossense. A exuberância da reserva de mais de 140 mil
quilômetros quadrados distribuídos entre os estados de Mato Grosso (MT) e Mato
Grosso do Sul (MS) é marcada principalmente pelo fato de o bioma ser guardião
de milhares de espécies, muitas raras e em extinção. Mas a grande planície
alagada que sobrevive graças aos ciclos de cheia e seca dos rios atrai também
empresários do setor energético. Nos últimos anos, a região pantaneira tem sido
ocupada por dezenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Especialistas
acreditam que as intervenções estejam alterando o fluxo migratório de espécies
aquáticas. Assim como eles, a comunidade ribeirinha cobra uma avaliação
ambiental estratégica do conjunto de equipamentos instalados ao longo do
pantanal para medir o real impacto que as PCHs geram no funcionamento do
ecossistema.

As
usinas de pequeno porte que têm sido construídas nos rios do pantanal são
capazes de gerar de 1 a 30 megawatts e operam pelo sistema conhecido como fio
d’água. Nesse tipo de hidrelétrica, não há formação de grandes reservatórios de
água, mas ainda assim a bióloga especialista em ecologia de rios da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal e professora da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Débora Calheiros afirma que as PCHs
são um risco para o sistema hidrológico da região. Débora observa que a
construção de tantas usinas já alterou o fluxo migratório dos peixes, que têm
enfrentado problemas para se reproduzir. “As PCHs são consideradas pequenas por
sua capacidade de geração de energia, mas qualquer obstáculo que é colocado no
leito do rio interrompe seu fluxo e altera o ciclo de secas e cheias,
fundamentais para a reprodução de algumas das espécies mais importantes do
pantanal”, alerta.
A
produção das PCHs, segundo Débora, é pequena e não compensa o impacto ao meio
ambiente. “Elas geram cerca de 1% da energia produzida no Brasil”, aponta. Ela
diz ainda que as hidrelétricas podem atingir a pecuária. De acordo com a
especialista, alguns produtores criam gado em pasto nativo, que depende das
inundações para se livrar de alguns tipos de vegetação. “A pecuária extensiva
já sofre, pois não observamos cheias tão grandes”, observa. Ela lembra ainda
que as secas pronunciadas também são importantes, pois é quando algumas
espécies, como as tartarugas, aproveitam para se reproduzir. A bióloga critica
a forma como as licenças têm sido concedidas. “Não se pode medir o impacto
individual das PCHs quando elas estão em um bioma complexo como o pantanal. O
que cobramos é uma avaliação ambiental estratégica de toda a região para
sabermos as mudanças que elas podem causar.”
Fonte: Estado de Minas
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