17 junho, 2013

Meio Ambiente

Biodiversidade do Pantanal está ameaçada por hidrelétricas



Poucos lugares no mundo abrigam tamanha biodiversidade e mesclam características de tantos biomas quanto o Pantanal Mato-grossense. A exuberância da reserva de mais de 140 mil quilômetros quadrados distribuídos entre os estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS) é marcada principalmente pelo fato de o bioma ser guardião de milhares de espécies, muitas raras e em extinção. Mas a grande planície alagada que sobrevive graças aos ciclos de cheia e seca dos rios atrai também empresários do setor energético. Nos últimos anos, a região pantaneira tem sido ocupada por dezenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Especialistas acreditam que as intervenções estejam alterando o fluxo migratório de espécies aquáticas. Assim como eles, a comunidade ribeirinha cobra uma avaliação ambiental estratégica do conjunto de equipamentos instalados ao longo do pantanal para medir o real impacto que as PCHs geram no funcionamento do ecossistema.

Detentor do título de Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, concedido pela Unesco, o pantanal é uma das maiores planícies úmidas do mundo, que, graças aos grandes rios que cortam a região, tem formação de grandes inundações de água doce ou salobra em toda sua extensão. Companhias de energia elétrica viram no grande volume de água uma oportunidade de negócio. O interesse é tão grande que além das dezenas de PCHs já em funcionamento nos dois estados, outros 87 projetos estão em andamento. Eles haviam sido suspensos por uma liminar da Justiça em dezembro, que proibía a expedição de licenças ambientais para construção de hidrelétricas até que os órgãos responsáveis apresentassem estudo de impacto do conjunto de PCHs. Mas a liminar foi derrubada em 3 de maio pela desembargadora Marli Ferreira, do Tribunal Regional Federal (TRF) de Cuiabá, depois de um recurso da Associação Brasileira dos Geradores de Energia Limpa (Abragel).

As usinas de pequeno porte que têm sido construídas nos rios do pantanal são capazes de gerar de 1 a 30 megawatts e operam pelo sistema conhecido como fio d’água. Nesse tipo de hidrelétrica, não há formação de grandes reservatórios de água, mas ainda assim a bióloga especialista em ecologia de rios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Débora Calheiros afirma que as PCHs são um risco para o sistema hidrológico da região. Débora observa que a construção de tantas usinas já alterou o fluxo migratório dos peixes, que têm enfrentado problemas para se reproduzir. “As PCHs são consideradas pequenas por sua capacidade de geração de energia, mas qualquer obstáculo que é colocado no leito do rio interrompe seu fluxo e altera o ciclo de secas e cheias, fundamentais para a reprodução de algumas das espécies mais importantes do pantanal”, alerta.

A produção das PCHs, segundo Débora, é pequena e não compensa o impacto ao meio ambiente. “Elas geram cerca de 1% da energia produzida no Brasil”, aponta. Ela diz ainda que as hidrelétricas podem atingir a pecuária. De acordo com a especialista, alguns produtores criam gado em pasto nativo, que depende das inundações para se livrar de alguns tipos de vegetação. “A pecuária extensiva já sofre, pois não observamos cheias tão grandes”, observa. Ela lembra ainda que as secas pronunciadas também são importantes, pois é quando algumas espécies, como as tartarugas, aproveitam para se reproduzir. A bióloga critica a forma como as licenças têm sido concedidas. “Não se pode medir o impacto individual das PCHs quando elas estão em um bioma complexo como o pantanal. O que cobramos é uma avaliação ambiental estratégica de toda a região para sabermos as mudanças que elas podem causar.”

Fonte: Estado de Minas

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